segunda-feira, setembro 06, 2004

Sabor Cólera Agridoce

A mão se estendeu e a palma se abriu, deixando os dedos em linha reta na minha direção.
Esboçou um sorriso de poucos dentes e falou seu nome, como se eu já não soubesse seu nome. Lembrava sempre das capas de literatura barata, eróticos para senhoras de meia idade de papel jornal. Estiquei meu braço e segurei firme, olhei nos olhos e não sorri. Momento único, lembrei dos telefonemas na madrugada, lembrei dos e-mails de poesia chavão, assinados com abreviações dos tempos modernos "Tamo" e da foto do palhaçinho. O sangue veio nas amígdalas, preencheu minha boca ao ponto da minha língua boiar sobre o líquido quente. Apertei com toda força aqueles dedos que estavam sobre o meu poder, e aconteceu o esperado. Um grito suficiente alto para que a boca ficasse aberta, o vômito de hemoglobina jorrou para o lugar esperado. Os poros absorviam tudo o que não foi por via oral, parecendo um imã venoso. A sangria estava completa. A dor, a mentira e o sarcasmo, voltaram para casa.

Mateus 5:29 Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.