quinta-feira, novembro 01, 2007

Primeiro Popular - leituras tóxicas

Foram lidos “os curtinhos”:


Minha caixa de recordações se esvazia.
Espaço limitado.
Revejo fotos de infância.
Lugar simples que gostaria de estar.
Meus brinquedos; o cadeado, a pilha e o jipe azul.
Até gostava do verão. Uvas na parreira e as abelhas...
Naquele tempo não tinha dor no peito nem saudade de ninguém.

O sabor é artificial.
Sem conservantes ou corantes.
As emoções são plastificadas
Sem cordões para amarrar os pulsos
ou trações para as falangetas.
Meu brinquedo de delicados pecados
Tem zíper no umbigo
Pede sempre que as costelas desenhadas
Fiquem fora do alcance das crianças.

Tudo se explica no magnetismo.
Você um solenóide, eu um corpo com elétrons desordenados, que tentam se alinhar as tuas linhas de força. Entro e saio, degenerando teus tecidos e inflamando as tuas mucosas.
Paro apenas quando você desliga seus contactores. A regra diz que a corrente sai do Norte para o Sul, mas prefiro acreditar que ainda sei a direção dos teus pólos.

Prendeu entre as pernas a respiração e olhou para a esquina em chamas.
Não adiantou correr, as malas eram tão pesadas e cheias de retalhos que foi melhor queimar. Junto ao teu corpo coloquei aquelas flores de plástico que eu mesmo fiz. Mas aquelas com cores desbotadas eu escondi, e quando começar a derreter você vai perceber os anéis benzênicos flutuando, eles não se desmancham, a ressonância os impede, eles são fortes.
Mais do que eu.

Um comentário:

Diego. disse...

tão subjetivo e interpretável, milhares de referências e nuances, tão pessoal como enigmático...gostei muito deste teu texto ana! grande beijo!